Krokodil

A AMEAÇA
Síntese do Krokodil
O processo mais utilizado para a síntese do Krokodil na Rússia e Ucrânia, países pioneiros na produção desta droga, assemelha-se bastante à síntese da metanfetamina, a partir da efedrina. Este processo sintético é composto por métodos simples de extração e redução que permitem obter o derivado opioide semissintético desejado: a desomorfina [1-4].
O processo de redução segue, normalmente, a via sintética de Nagai [1], que utiliza reagentes e equipamentos simples, de fácil acesso e baixo custo, no entanto isto faz com que o produto final apresente muitos subprodutos e resíduos tóxicos quando o objetivo é o de sintetizar apenas a desomorfina, e é aqui que reside o principal problema desta nova droga [1-3].
Para a síntese do Krokodil parte-se da codeína e por etapas simples é possível obter a desomorfina [1-3]:
Após manufatura, o Krokodil está pronto a ser injetado quando a mistura passa de uma coloração opaca púrpura para uma coloração castanha-amarelada transparente, acompanhada de uma mudança de odor, o que demora, em média, 45 minutos. A coloração acastanhada pode estar associada aos iões iodeto ainda presentes [1,2].
A mistura final apresenta um pH ácido forte, e alguns utilizadores recorrem às cinzas de cigarro e/ou bicarbonato de sódio para o aumentarem, no entanto não é suficiente para que ultrapasse o pH de 3 [1].
Solução aquosa ácida
Codeína
(sal)
Base forte
1. Extração da Codeína
Codeína
(livre)
Extraída na fase orgânica
(eliminação de impurezas solúveis em água)
Extraída na fase aquosa
(eliminação de impurezas insolúveis em água)
Codeína
(sal)
Nota: O processo de extração pode ser repetido para obtenção de um produto mais puro. A codeína sob a forma de sal presente na fase aquosa pode ser extraída ou seca usando acetona ou calor; ou então diretamente usada na etapa seguinte da síntese (mais comum entre os produtores da droga).
2. Redução da Codeína
Codeína
(sal)
Iodo
Água
Fósforo vermelho
Ácido iodrídico
Codeína
(sal)
Desomorfina
Subprodutos tóxicos
Converte o iodo consumido na formação do ácido iodrídico novamente à forma molecular
Prolongamento da reação
Notas: O ácido iodrídico pode ser utilizado diretamente como reagente, ou gerado in situ pela reação entre o iodo e o fósforo vermelho.
O ácido iodrídico consegue introduzir iodo no anel da codeína, formando um halogeneto de alquilo. No entanto, este é facilmente reduzido, visto que o anião iodeto é um excelente grupo abandonador.
Ácido muito forte
(potente redutor)
Substituição do grupo metoxilo por hidroxilo
Pela utilização de reagentes tóxicos


O Krokodil torna-se uma droga de abuso de fácil acesso devido à simplicidade desta síntese, cuja descrição pode ser facilmente acedida e também porque é possível obter todos os reagentes e equipamentos necessários fora do laboratório. O curto tempo de semi-vida dos compostos desta droga, fazem com que os consumidores necessitem frequentemente de uma nova dose. Aliando isto ao facto de ser uma droga mais barata justifica o seu uso e a substituição da heroína, que é uma droga de abuso bastante mais cara [1-4].
Aspeto do Krokodil durante a produção caseira.
Ações no organismo
Referências:
1. Alves, E. A., et al. (2015). "The harmful chemistry behind krokodil (desomorphine) synthesis and mechanisms of toxicity." Forensic Sci Int 249: 207-213.
2. Katselou, M., et al. (2014). "A "krokodil" emerges from the murky waters of addiction. Abuse trends of an old drug." Life Sci 102(2): 81-87.
3. Grund, J. P., et al. (2013). "Breaking worse: the emergence of krokodil and excessive injuries among people who inject drugs in Eurasia." Int J Drug Policy 24(4): 265-274.
4. Veronese, K. "Krokodil: Russia's designer drug that will eat your flesh." Consultado a: 24-03-2016., disponível em: http://io9.com/5859291/krokodil-russias-designer-drug-that-will-eat-your-flesh, 2011.
Imagens retiradas de: http://time.com/3398086/the-worlds-deadliest-drug-inside-a-krokodil-cookhouse/, a 20-05-2016.