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Tolerância e Dependência

1. Tolerância

  O uso contínuo de desomorfina pode acarretar complicações bastante severas, incluindo [1,2]:

1. Tolerância.

2. Dependência física e psicológica.

  3. Síndrome de abstinência similar ao da heroína.

  O desenvolvimento de tolerância (necessário maior dose do composto para produzir determinado efeito) à desomorfina, bem como aos restantes opioides, está associado à capacidade de estes induzirem a internalização do recetor opioide µ. Este fenómeno é estimulado pela fosforilação do terminal carboxílico do recetor (localizado no domínio citoplasmático), especialmente num cluster de três resíduos de serina e três resíduos de treonina presentes neste domínio do recetor. A fosforilação pode ocorrer em locais distintos e diferentes opioides demonstram ter diferentes perfis de fosforilação.

  Como a fosforilação pode ocorrer em locais distintos, os diferentes opioides não têm todos a mesma capacidade de provocar dependência e tolerância, isto porque a fosforilação é essencial para a endocitose dos recetores nos neurónios [1,3].

   O síndrome de abstinência corresponde a um conjunto de sinais e sintomas (ansiedade, problemas musculares, diarreia, ...) provocados pela supressão do consumo de uma droga, após exposição prolongada a esta. Para avaliar a rapidez de aparecimento dos sintomas do síndrome de abstinência, foi retirada durante 6 a 12 horas, a cada 10 dias, a dose de morfina ou desomorfina de consumidores. Foi verificado, no caso da desomorfina, que ao fim de 10 dias os sintomas começaram a aparecer e ao fim de 3 semanas os sintomas apareciam quando se retirava a dose por apenas 4 horas. No caso da morfina, neste intervalo de tempo, não foram observados sintomas. No entanto, é necessário ter em conta o início de ação mais longo deste opioide [5].  

2. Dependência

  Dependência física: a dependência física aos opioides resulta de alterações cerebrais envolvendo parte da base cerebral: o locus ceruleus. Os neurónios do locus ceruleus produzem noradrenalina (NA) que é distribuída para várias partes do cérebro e que estimula o estado de alerta, respiração, pressão arterial, entre outros. Quando um opioide se liga aos recetores µ nas células cerebrais no locus ceruleus, há supressão da libertação de noradrenalina, o que resulta em secura, respiração lenta, baixa pressão arterial (Ir para toxicidade).

  Os neurónios do locus ceruleus têm capacidade de ajustar a libertação da noradrenalina para manter a homeostasia, desregulada pelo consumo prolongado de opioides, mas quando estes deixam de estar presentes há libertação de um excesso de NA pelos neurónios do locus ceruleus provocando ansiedade, problemas musculares, diarreia, entre outros sintomas associados ao síndrome de abstinência [4].

  Dependência psicológica (adição): neste tipo de dependência, a área do cérebro envolvida é a do Sistema mesolimbico de recompensa. A ligação dos opioides aos recetores µ provoca a libertação de dopamina pela área ventral tegmental no núcleo accumbens, e é responsável pela sensação de prazer. No entanto, nos toxicodependentes, este processo está alterado, por exemplo pelo desenvolvimento de tolerância, e há diminuição da libertação de dopamina, o que diminui a sensação de prazer em atividades que normalmente o causam, como comer. Estas alterações ainda não estão completamente esclarecidas, mas parece ser importante na necessidade e consumo compulsivo da droga [4].

 

 

3. Síndrome de abstinência

Áreas do cérebro envolvidas no desenvolvimento da dependência (adaptado de 2).

Âncora 1
Âncora 2

Toxicidade

Métodos de deteção

Referências:

1. Alves, E. A., et al. (2015). "The harmful chemistry behind krokodil (desomorphine) synthesis and mechanisms of toxicity." Forensic Sci Int 249: 207-213.

2. Katselou, M., et al. (2014). "A "krokodil" emerges from the murky waters of addiction. Abuse trends of an old drug." Life Sci 102(2): 81-87.

3.  Just, S., et al. (2013). "Differentiation of opioid drug effects by hierarchical multi-site phosphorylation." Mol Pharmacol 83(3): 633-639.

4. Kosten, T. R. et al. (2002). "The Neurobiology of Opioid Dependence: Implications for Treatment." Sci Pract Perspect 1(1): 13-20.

5. Toxicology Data Network. (2013). "Desomorphine." Consultado a: 24-04-2016, disponível em: https://toxnet.nlm.nih.gov/cgi-bin/sis/search/a?dbs%20hsdb%3A%40term%20%40DOCNO%208070.

 

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